Uma pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Defesa
do Consumidor (Idec) constatou que resíduos de agrotóxicos permanecem até em
bisnaguinhas, bolachas recheadas, biscoitos de água e sal, cereais matinais,
bebidas de soja e salgadinhos.
Foram analisados 27 produtos de oito categorias. Dessas,
seis apresentaram vestígios de defensivos, dentro dos limites permitidos pela
legislação.
O Idec ressalta que em nenhuma amostra a substância
encontrada estava acima do limite permitido. Os itens foram escolhidos por
terem trigo, milho ou soja em sua composição.
“São produtos que muitas crianças comem todos os dias. A
dosagem de agrotóxico para uma criança é mais prejudicial para o
desenvolvimento dela do que para o de um adulto”, diz Rafael Arantes,
nutricionista do Idec.
Os produtos são: bebida de soja Naturis (Batavo); cereal
matinal Nesfit (Nestlé); salgadinhos Baconzitos e Torcida (ambos da Pepsico);
pães bisnaguinha Pullman (Bimbo), Wickbold, Panco e Seven Boys (da Wickbold);
biscoitos de água e sal Marilan, Triunfo (Arcor), Vitarella e Zabet (ambos da
M. Dias Branco); e os recheados Bono e Negresco (Nestlé), Oreo e Trakinas
(Mondelez).
DEBATE
Atualmente, os rótulos não trazem informações sobre a
presença de resíduos. “É importante criar um debate público sobre como informar
o consumidor sobre a presença dessas substâncias”, defende Cecília Cury,
advogada e fundadora do Movimento Põe no Rótulo.
Um estudo feito por pesquisadores da Universidade de
Princeton, da Fundação Getulio Vargas (FGV) e do Insper revela que a
disseminação do glifosato — o defensivo mais utilizado no Brasil — nas lavouras
de soja levou à alta de 5% na mortalidade infantil, com impactos no peso ao
nascer e no tempo de gestação, em municípios que recebem água de regiões
produtoras, diz Rodrigo Soares, professor do Insper e responsável pelo estudo.
Para o gerente-geral de Toxicologia da Anvisa, Carlos
Alexandre Oliveira Gomes, a população tem o direito de saber o que está
consumindo. Mas ele não considera necessariamente um problema o fato de haver
resíduos nos alimentos. “Hoje os alimentos no Brasil são seguros à luz da
ciência atual”, afirma.
EMPRESAS GARANTEM QUE RESÍDUOS ESTÃO DENTRO DO LIMITE PERMITIDO
A PepsiCo informou que em todos os seus produtos, incluindo
Torcida e Baconzitos, são usadas matérias-primas compradas de fornecedores que
cumprem a legislação, e que os resíduos de defensivos agrícolas “estão dentro
dos níveis autorizados pela Anvisa e são seguros para consumo humano”.
A Marilan Alimentos S/A informou que é “comprometida com a
qualidade de seus produtos, atuando sempre em prol da saúde, segurança e
bem-estar dos consumidores”, e afirmou que observa todas as normas da Anvisa.
A M. Dias Branco, das marcas Vitarella e Zabet, declarou que
tem um programa de monitoramento e testagem de resíduos de agrotóxicos nas
matérias-primas. A empresa pontuou que os vestígios das amostras da pesquisa
estão dentro da margem permitida.
A Bagley do Brasil — que responde por produtos Arcor —
garantiu que nem as matérias-primas usadas nem os produtos elaborados contêm
quantidades de contaminantes que possam não cumprir normas sanitárias ou gerar
quaisquer riscos à saúde dos consumidores.
A Nestlé ressaltou que tem um Sistema de Gestão de Segurança
dos Alimentos em suas fábricas e conta com um centro de qualidade com
tecnologias de ponta. Acrescentou que “não tem registros de resultados fora dos
parâmetros de segurança para as substâncias relacionadas pelo Idec”.
A Mondeléz declarou que não teve acesso ao estudo do Idec
nem à metodologia por ele utilizada. "Por isso, não podemos nos manifestar
sobre o mesmo. Contudo, todos os nossos produtos estão em conformidade com a
legislação brasileira de alimentos e são absolutamente seguros para o
consumo", concluiu.
A Wickbold, a Batavo e a Bimbo não responderam.
FONTES: IDEC, EXTRA
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